"Acreditar no amor sem limites é o mais perto que algum dia estarei da fé"

Ian McEwan, agora com 66 anos, diz-se cada vez mais pressionado com a natureza finita da vida. No seu novo livro, reflete sobre a morte precoce de um jovem. Nesta conversa, sobre os desafios do presente
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The Children Act, a publicar em Portugal em junho do próximo ano e baseado num caso real, é o novo livro do escritor britânico. Fiona Maye é uma juíza que se vê obrigada a decidir sobre a vida ou a morte de Adam, um rapaz com apenas 17 anos. Ele sofre de leucemia e os pais, testemunhas de Jeová, não querem autorizar o hospital a proceder a uma transfusão de sangue. O DN esteve em Londres a conversar com Ian McEwan.

Num determinado momento do livro, Fiona diz a Adam que na vida, se calhar, todos precisamos de contos de fadas. A literatura também é um conto de fadas?

É melhor ainda. Na grande literatura conseguimos encontrar mais conhecimento e melhores orientações sobre a vida do que em qualquer em religião.

Mas concorda com Fiona? Precisamos de contos de fadas?

Até aos 9 anos, quando nos caem os últimos dentes de leite. Muitas pessoas que conheço afastaram-se da religião por volta dessa idade. Será que precisamos de literatura para sobreviver? Muitos escritores dizem que sim, mas julgo que não. No Reino Unido - em Portugal provavelmente acontece o mesmo -, 90% da população vive sem literatura. Consomem narrativas de outras formas, através, por exemplo, da televisão. E não é por isso que têm um enquadramento moral menos sólido. Nos primeiros esboços que fiz do The Children Act, desenhei a Fiona com um ateísmo muito mais vincado. Depois acabei por não seguir esse caminho. Ela não está contra Deus nem a seu favor. Está além da religião. E, enquanto juíza, chegou a um momento da vida em que percebe que a lei pode ser tão ilógica como a religião.

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